sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Um flâneur na rua Barão de Itapetininga


A arte de flanar me atrai muito. No dicionário (Houaiss), flanar é “andar ociosamente, sem rumo nem sentido certo; flanear, flainar, perambular”. O primeiro “flâneur” famoso foi Charles Baudelaire. Pelas ruas e galerias de Paris, ele observava tudo e todos, eternizava eventos passageiros e tornava o que era inútil em arte. No Brasil, influenciou diretamente João do Rio, jornalista e cronista carioca que, em 1907, lançou o livro “A Alma encantadora das Ruas”. Em um trecho desse livro que copiei de um outro blog, me identifico até o pescoço: “Flanar é ser vagabundo e refletir, é ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem; é ir por aí, de manhã, de dia, à noite(...)”. Maravilha!

Como estou em férias, Baudelaire não sai da minha mente. Na hora de flanar hoje, levarei um livro dele que ganhei ano passado e ainda não terminei: “Paraísos artificiais: o haxixe, o ópio e o vinho”.

Ontem, perambulei no centro da cidade, antes de assistir o filme do post abaixo. Baudelaire no “Quartier latin” e eu na Barão de Itapetininga. Entre um chá gelado com limão e promotores perguntando se eu precisava de dinheiro emprestado, entrei numa galeria atrás de discos de vinil. Não é a galeria do rock. É mais tranqüila, não está na moda, ninguém faz pose de mau e os discos são mais baratos. Depois falo do meu desgosto pelos CDs em outro post.

Foi uma delícia ver aqueles “long plays” pendurados ou cheios de pó na prateleira. Apaixonei-me por vários. Tentei levar alguns mais baratos, mas as lojas não aceitavam dinheiro de plástico, só em espécie mesmo. Antes de providenciar papel moeda, passei por uma que vendia um disco que eu estava atrás há algum tempo: “Balançando” de Milton Banana Trio. O disco é de 1966 e tem uma música que muito me atrai e se chama “Cidade Vazia”. Eu a conheci primeiro como um “sampler” na música “Você gosta” do produtor musical chamado Suba, no disco São Paulo Confessions (que, aliás, é um dos 1001 discos citados para se ouvir antes de morrer, conforme primeiro post desse blog).

Numa outra ocasião, no meio de uma festa, um amigo me soprou no ouvido: “Você precisa conhecer Milton Banana Trio”. Ouvi em mp3 poucos dias depois e o samba-jazz deles me conquistou.

Milton Banana foi um baterista muito importante da bossa nova. Participou, por exemplo, da primeira gravação de “Chega de saudade” de Tom e Vinícius, feita por João Gilberto.

Preciso voltar nessa galeria. Fazer uma pesquisa de trios de samba-jazz e entrar nessa loja novamente. Zimbo Trio, Copa 5, Rio 65 Trio já estão na minha lista. Os ingleses que produzem “acid jazz” ficam doidinhos quando escutam nossa música instrumental.

Apesar do calor, as ruas me esperam.

3 comentários:

Sabrina Rocha disse...

Conta o milagre mas não conta o santo...diz aí o nome da galeria, fiquei muito afim...

Sabrina Rocha disse...

Obrigada pela dica Marcelo.

Anónimo disse...

E a saga "Em busca dos post perdidos" continua,rs*

Fiquei curiosa sobre Milton Banana Trio.
Vou procurar.

acho q vc esta conseguindo endireitar o meu gosto musical, ou pelo menos tornando ele um pouco mais amplo. rs*

Beijos