segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

LPs ocupam mais espaço


Não compro mais CDs. Eles são pequenos e ficam feios por causa da embalagem de plástico. Fazer download de mp3 também me afastou desse consumo. As discussões sobre direitos autorais, marketing e a posição das gravadoras no combate aos downloads me dão preguiça. Quando penso em alguns artistas e quero ter seus álbuns, me decepciono com o CD.

Veja só: uma capa de long play mede 30cm X 30cm, e o CD 13cm X 13cm, medidas aproximadas. A arte da capa de um disco de vinil é 5 vezes maior. É só lembrar de capas maravilhosas e imaginá-las em formato CD. Ou melhor, hoje em dia o normal é o inverso: imaginá-las em formato long play. A capa de “Physical grafitti” do Led Zeppelin, lançado em 1975, contem uma diversão que só acontece no formato maior. O álbum é duplo e os dois encartes que envolvem os discos têm inúmeras imagens que são do mesmo tamanho das janelas vazadas no papel da capa do disco. Você escuta o álbum e forma várias combinações de janelinhas. E as mulheres nuas na capa de “Electric Ladyland” (1968) de Jimi Hendrix? Quem comprou em vinil viu as mulheres em um tamanho parecido com os calendários pendurados em borracharia, mas quem comprou em CD teve a impressão que via aqueles calendários sacanas de bolso, em formato de cartão.

Ali no começo da década de 90, quando comecei a consumir CDs, é lógico que adorei a novidade. Consumi, consumi e consumi por mais de dez anos. Esse discurso do tamanho da capa eu sempre usei, mesmo empolgado pela novidade. Era uma forma de me proteger, de disfarçar esse meu apreço pela tecnologia, de demonstrar rebeldia perante a novidade capitalista. Não queria ser um pequeno burguês assumido. Formei uma coleção que está aqui agora, olhando para mim. Ocupa bem menos espaço que os vinis, mas causa menos impacto também, como citei mais acima.

Existe uma coleção de vinis aqui em casa que não olha pra mim. Portanto, nesse fim de semana resolvi limpar os discos de vinil e trocá-los de lugar. Comprovei novamente o quão impactantes eles são logo de manhã. Meus braços e minhas costas estão doloridos. Não me arrependo. Estamos juntos outra vez.

Esse interesse renovado, essa nostalgia revitalizada, teve seu ápice em setembro de 2007. Procurava um presente especial para impressionar. O aniversariante merecia. Entrei numa loja de discos por força do hábito e não para procurar o presente, mas dei de cara com uma peça que encerraria a busca. O álbum dos Stooges, lançado em março de 2007, em vinil duplo, chamado "The Weirdness", depois de 34 anos sem gravar. Babei, suei frio e peguei-o na mão para observar os detalhes. O preço estava justo, mas já estava encomendado. Talvez pela decepção, só depois de uma semana lembrei que poderia comprar via internet. Comprei para mim. Para o aniversariante encomendei outro vinil que se encaixa mais ainda no seu gosto musical, um clássico do rock de garagem de Detroit, chamado “Ultraglide in black” dos Dirtbombs.

Em novembro de 2005, os Stooges vieram pra São Paulo tocar no festival “Claro que é rock”. Eu tive que conferir, não podia perder. Fiquei satisfeito até o osso. Eu tenho um pé atrás com bandas que retomam turnês para complementar aposentadoria, e pedir para o público cantar junto com isqueiros acesos, mas Iggy Pop à frente da banda não faz esse gênero. Os caras trabalharam duro e se divertiram. Uma porrada atrás da outra.

O vinil dos Stooges tem 16 minutos (quatro músicas) a mais que o CD. Saí ganhando em tamanho da arte da capa e na quantidade de músicas. Não compro mais CDs.

1 comentário:

Zúnica disse...

Olá!
Fico muito feliz que a Ziccardi tenha te recomendado meu blog.

Adorei te conto (Vento Frio). Engraçado, comecei á ler e achei tão Kerouac, tão... Bukowski. E Eis que vc escreve sobre Misto Quente! Curiosamente, estava esse fim de semana lendo Crônicas de um amor Louco, também do senhor Charles.

E vc ainda cita outro Charles de peso! Paraísos artificiais, na minha humilde opnião, é ainda mais importante que As flores do mal. Parabéns pelo excelente gosto literário!

Vou começar á frequentar este espaço, e espero tua visita lá no meu simplório baú de esquizofrenias fugitivas.

Grande abraço!