quinta-feira, 16 de abril de 2009

Instantâneos 4



Eu piscava e meus olhos doíam. Parecia que eu tinha dado um mergulho numa piscina de areia. Mirava uma vela e tinha a impressão que olhava para uma lâmpada; mirava uma lâmpada e parecia que a polícia tinha me parado para uma batida; um carro me jogava farol alto e eu ficava cego. Era 31 de março, terça feira, quase dezoito horas e meus companheiros de escravidão já desconfiavam que eu teria atestado para ficar em casa. A conjuntivite chegou. Estava exausto e desconfortável. Precisei de um mimo e acabei num bar bem escuro da Mooca. Já tinha ido lá por recomendação de um amigo e voltei para tomar uma Quilmes 960ml, comer empanadas e escutar tangos. Moocaires Querido! Bar argentino no coração da Mooca. Olhava para a parede grafitada que fingia ser "el caminito" de Buenos Aires e aquelas cores me confortavam, olhava a empanada e sentia que o mundo era bom, tomava um gole da Quilmes e queria mais tango. O papo estava ótimo e o incrível som de "Gotan Project", banda de electro-tango, me deixavam longe de qualquer queixa. Lembrei de uma amiga que adora tango mas liguei para outra: "estou começando o tratamento da conjuntivite aqui no Moocaires. Meus olhos precisam de um mimo especial.Marquemos com nossa amiga para lagartixar por aqui qualquer dia desses!". Quando o tráfego pela rua diminuiu e as luzes ficaram menos intensas acompanhei um gato dançando tango solitariamente pela rua, atravessando-a cheio de charme. Mas , num rompante, fez o mesmo trajeto de volta nuam rapidez intensa e passando pelo meio dos carros de forma acrobática e aventureira. Gosto de gatos.




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segunda-feira, 13 de abril de 2009

Instantâneos 3



Na segunda, dia 06 de abril, eu estava curado. A conjuntivite, além de não me incomodar, não deixava sinais de que havia existido. As pálpebras desinchadas e com a coloração natural, não davam nenhuma pinta que continham bactérias loucas para encontrar outros olhos, outros hóspedes, outras lágrimas e outros cílios. Continuava perigoso chegar perto. Eu ainda contagiava aquele desconforto oftálmico. Meus olhos, então, procuraram os livros. E fizeram ali uma breve seleção até escolherem "Panamérica" de José Agripino de Paula. Eles queriam a psicodelia, a prosa livre, os maneirismos beat. O livro é de 1967 e os personagens foram conmtaminados com minha conjuntivite. Nem todos, mas pelo menos o narrador e Marilyn Monroe vão ter que visitar o oftalmologista. Sim, sim, o Agripino é doido. Além dela, lá ainda estão vários figurões de Hollywood: Clark Gable, Burt Lancaster, Cary Grant, Marlon Brando, diretores de cinema, os Irmãos Marx e o escambau! Um trecho do livro, com o jogador Di Maggio e Marilyn Monroe (ainda sem ter pego minha conjuntivite):


"A multidão se encontrava paralisada nas arquibancadas e todos pressentiam que iriam ser esquartejados. Di Maggio deu um segundo grito potente e terrível saltando para cima e agitando a foice. Di Maggio partiu veloz contra a multidão de espectadores, que fugia em pânico. Di Maggio degolou os quarenta guardas que ocupavam o alambrado com um só movimento de foice, e depois partiu esquartejando os espectadores. Saltavam cabeças, pernas, braços, corpos para todos os lados e aqueles que não eram esquartejados pela foice eram esmagados pelos pés de Di Maggio. Di Maggio, depois de ter exterminado todos os espectadores, juízes, fotógrafos, repórteres, cinegrafistas, vendedores de coca-cola, destruía o estádio pontapés. (...) O atleta, coberto de suor, sangue e cinza, olhou para Marilyn Monroe,
que se encontrava indefesa no centro do campo entre os destroços do estádio de futebol e entre as cabeças, pernas e braços dos cadáveres esquartejados. (...) Di Maggio olhou para Marilyn e cresceu o seu falo, suspendendo a calça de Di Maggio. O herói rancou violentamente a roupa e saltou para fora o seu falo imenso de dois metros de comprimento. Di Maggio correu nu entre os escombros balançando o seu falo imenso de dois metros de comprimento e abraçou Marilyn. Marilyn soltou um pequeno gemido e se abandonou nos braços do herói"




sábado, 11 de abril de 2009

Instantâneos 2


No auge da conjuntivite (sexta dia 03 de abril) o pôr do sol estava alaranjado como só o outono consegue proporcionar. Eu não podia perdê-lo. Meus olhos pareciam uma câmera Polaroid: as cores ficaram mais fortes, mais vivas, quase irreais, granuladas. Na Polaroid, para adiantar o resultado, abana-se a foto ao vento; eu balançava um pouco a cabeça para enxergar melhor aquele laranja agudo. Durante todo o dia fugi da claridade. Perto das 18 horas eu quis olhar fundo para o sol. Como um colírio laranja. Acordei muito bem no sábado, sem os sintomas e até discotequei no restaurante.

(essa balançada de cabeça me lembrou um clipe que gosto muito e que tem a ver com os sons que tenho escutado ultimamente. Nunca parei de ouvir, desde os 90´s, claro. Mas nesses dias de molho oftálmico, o gênero trip-hop - ou downtempo, como queiram - tem me trazido conforto aos ouvidos. O clipe é "Hell is round the corner" do Tricky. Ele fez parte do coletivo Massive Attack em 1995, depois gravou álbuns solos. A música tem uma levada de baixo sampleada do Isaac Hayes na música "Ike´s rap 3", também usada pelo Portishead em "Glory box" e pelos Racionais MCs em "Jorge de Capadócia". Adoro o contraponto do Tricky cantando e a cantora Martina suavizando. Confira abaixo)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Instantâneos


Sexta feira 27/03, uma semana antes do auge da conjuntivite, meus olhos - bem vermelhos - prestaram muita atenção na rua. Avenida Liberdade. Meia noite. Trezentos e sessenta graus para visualizar o metrô São Joaquim, o fast food árabe famoso, gente passando, a ambulância nervosa, trabalhadores descarregando o caminhão, gente passando, o bar a fechar (aquele que eu enchi a cara),um novo restaurante japonês cheirando a carro zero, gente passando, um universitário falando sozinho no ponto de ônibus (quando ele percebeu que virei platéia aumentou o volume da voz), meu reflexo no vidro misturado com um casal que brigava dentro do fast food árabe, duas esfihas dentro da caixa se oferecendo ao som das vozes de minhas duas amigas: pegue uma esfiha! Meu cigarro chegou ao fim.



quinta-feira, 2 de abril de 2009

Jon Spencer no Brasil (sem o Blues Explosion)


O recente projeto dele se chama "Heavy Trash". Tem influências do rockabilly e do country tradicional, lotado de brilhantina e casacos de couro. Formada por Jon Spencer, Matt Verta-Ray e com a base da banda dinamarquesa Power Solo tocam em apresentações no Abril Pro Rock em Recife e em São Paulo nas unidades do SESC Sorocaba, Araraquara e Bauru e no StudioSP. Bela notícia! Em São Paulo a data no Studio SP é numa quarta, dia 22 de abril. Bela notícia!
A banda Jon Spencer Blues Explosion já tocou no festival Abril Pro Rock em 2001 lá em Recife e numa versão reduzida do festival aqui em São Paulo. Eu perdi, idiota que sou. Também perdi Stereolab, Atari Teenage Riot e Nouvelle Vague. Mas assisti Asian Dub Foundation!
Jon Spencer sempre esteve envolvido em projetos interessantes: a barulhenta banda "Pussy Galore", a banda da esposa sexy Cristina Martinez "Boss Hog", além das duas já citadas acima.
Veja, abaixo, um clipe da música "Dark haird rider". Bem no espírito. Enjoy it!