Segunda é o
terminal de ônibus na estação Armênia do metrô. Lotado e imundo, cheio de
camelôs gritando. O cheiro ruim do rio Tamanduateí, a rua esfumaçada pelos ônibus
e caminhões desregulados. Segunda é o assassinato do sonho. É o caboclo que
pensa: “tudo o que eu queria no domingo hoje não dá mais”. Um “caia na real’
forçado e sem saída. Se alguém levanta o dedo, a voz ou o nariz contra o humor
de segunda feira, logo é repreendido. Não há ocasião para se rebelar. A
aceitação indiscriminada do dia não pode ser colocada à prova. O rebelde irrita
o resignado. A culpa e o pecado só são absolvidos pelo mau humor.
O máximo que
se admite de distração e pseudo-alegria são os comentários masculinos dos jogos
de futebol e as lembranças femininas dos passeios e noitadas. E rápido! Pois logo
os chefes e patrões vão destilar ódio com enxofre pelo ar e empregados vão
engolir chumbo quente. Quem sabe, nos próximos dias da semana, o ferro esfrie e
o odor da raiva fique mais perfumado. Assim, na próxima segunda, tudo volta ao
normal para o embate.
Não se
preocupe. Sempre sobra um pouco para a marmita. Sempre sobra uma briga. Sempre
sobra um arranhão. E nunca sobra dinheiro. A página do livro é marcada pelo
comprovante amarelo de saldo bancário. O que atrapalha a concentração na
leitura? O susto das despesas ou o barulho do primeiro dia da semana? Leia com
um barulho deste. Ou com uma culpa desta.
O almoço é o
medicamento da segunda. A hora do analgésico. A tia fazendo aviãozinho com a
colher e dizendo que é gostoso. Tomara que sim. Nem toda marmita é gostosa. Nem
todo mundo é feliz cozinhando. E se for pagar pela refeição, a expectativa é
maior ainda. O efeito colateral discriminado na bula pode ser pior. Esquecer de
uma dor de cabeça com um soco no estômago.
Na semana é o
primeiro dia útil, mas o segundo do calendário. Em espanhol “lunes’, em
italiano “lunedi”, em inglês “Monday” e em alemão “Montag”. As línguas
reverenciam a Lua neste dia.
Eu não tenho
nada contra as segundas. Já o Garfield...
2 comentários:
Denso, gostei. Bjs, Marcelito!
Sou igual o Garfield. Odeio segundas.
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