terça-feira, 31 de julho de 2012

Ensaio sobre a Segunda

         A imagem é de trânsito e fumaça. Logo cedo. O céu azul ou cinza, tanto faz. O sol ardido no rosto ou a garoa fria e a segunda feira nunca muda de personalidade. Muita gente com pressa e as ruas lotadas de sujeira. Desconfortável e empoeirada. Assim é toda segunda. Aparência masculina e pensamento feminino. Imagem de desleixo e lixo emporcalhado (homem) com ritmo apressado e sem paciência (mulher). Como uma Marginal Tietê cinza empurrando e furando a fila.

Segunda é o terminal de ônibus na estação Armênia do metrô. Lotado e imundo, cheio de camelôs gritando. O cheiro ruim do rio Tamanduateí, a rua esfumaçada pelos ônibus e caminhões desregulados. Segunda é o assassinato do sonho. É o caboclo que pensa: “tudo o que eu queria no domingo hoje não dá mais”. Um “caia na real’ forçado e sem saída. Se alguém levanta o dedo, a voz ou o nariz contra o humor de segunda feira, logo é repreendido. Não há ocasião para se rebelar. A aceitação indiscriminada do dia não pode ser colocada à prova. O rebelde irrita o resignado. A culpa e o pecado só são absolvidos pelo mau humor.

O máximo que se admite de distração e pseudo-alegria são os comentários masculinos dos jogos de futebol e as lembranças femininas dos passeios e noitadas. E rápido! Pois logo os chefes e patrões vão destilar ódio com enxofre pelo ar e empregados vão engolir chumbo quente. Quem sabe, nos próximos dias da semana, o ferro esfrie e o odor da raiva fique mais perfumado. Assim, na próxima segunda, tudo volta ao normal para o embate.

Não se preocupe. Sempre sobra um pouco para a marmita. Sempre sobra uma briga. Sempre sobra um arranhão. E nunca sobra dinheiro. A página do livro é marcada pelo comprovante amarelo de saldo bancário. O que atrapalha a concentração na leitura? O susto das despesas ou o barulho do primeiro dia da semana? Leia com um barulho deste. Ou com uma culpa desta.

O almoço é o medicamento da segunda. A hora do analgésico. A tia fazendo aviãozinho com a colher e dizendo que é gostoso. Tomara que sim. Nem toda marmita é gostosa. Nem todo mundo é feliz cozinhando. E se for pagar pela refeição, a expectativa é maior ainda. O efeito colateral discriminado na bula pode ser pior. Esquecer de uma dor de cabeça com um soco no estômago.

Na semana é o primeiro dia útil, mas o segundo do calendário. Em espanhol “lunes’, em italiano “lunedi”, em inglês “Monday” e em alemão “Montag”. As línguas reverenciam a Lua neste dia.

Eu não tenho nada contra as segundas. Já o Garfield...



2 comentários:

Vivi Peron disse...

Denso, gostei. Bjs, Marcelito!

Deh disse...

Sou igual o Garfield. Odeio segundas.