quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ensaio sobre a Terça

Ele coça a cabeça bem perto da nuca e pergunta para quem estiver ao lado: “Qual o dia da semana hoje?”. A resposta demora e a impressão é que o interlocutor não ouviu. Mas logo vem um som de trem passando pela estação sem parar: “Terça! Terça!”.

A terça feira é um dia artificial, feito plástico. Um dia-bolha. Ele não existe. Da mesma forma que a ciência formula hipóteses, a imaginação o cria para servir como uma ponte entre o susto da segunda e o despertar da quarta feira. Um dia protocolo. Ele passa e ninguém sente falta. Compromissos e compromissos e todos se parecem com robôs a obedecer ordens em combinações de zero e um.

Letárgico, como o efeito colateral de alguns remédios, o dia passa arrastado. É o medicamento da véspera agindo. O peso da segunda feira só se aguenta com um sossega leão e a reação adversa é a apatia. Contra indicado para aqueles que querem tudo. Nem triste, nem alegre. Nem ágil, nem molenga. Nem cheio, nem vazio. Nem sim, nem não.

No entanto, é eficiente. O que pode parecer indiferença para alguns pode ser concentração para outros. Um estado de espírito que não aparenta ter objetivo, mas tem. Aos desavisados e aqueles que não sabem o que vieram fazer neste mundo, a terça só “passa”. Mas para quem está acostumado com o ritmo e o papel da meditação, o dia é perfeito. Mente vazia para a conexão que realmente vale a pena.

Talvez o dia mais indicado para se drogar. Nenhum filtro, nenhuma ansiedade, nenhuma predisposição equivocada. O “barato” puro e tranqüilo. Como quem dorme bem e acorda descansado e disposto. Na medida.

Justamente pela falta de excessos, o dia é charmoso. Não há soberba, exacerbação ou gula. Ele se guia pelo simples e necessário e se torna elegante. Está mais para Chanel do que para o Rococó. Não há espaço para a criatividade genial, mas nem por isso só a inércia toma conta. 

A Terça Feira é o dia dedicado ao planeta Marte, tanto que em espanhol se diz “martes”, e em italiano “martedi”. E se algum alemão lhe perguntar que dia é hoje, solte um “dienstag”. 

1 comentário:

Deh disse...

nunca tinha pensado na terça dessa maneira. Quando ia levantar uma bandeira de protesto no seu segundo paragrafo o terceiro explicou melhor onde queria chegar e realmente concordo, terça é meio apática.
É um dia q ñ tem como gostar e nem desgostar.
As boas memorias do fds ja estão nos deixando, mas não sentimos o peso da semana, como na segunda.
Um dia pratico.