Ele coça a cabeça bem perto da nuca e pergunta para quem estiver ao lado:
“Qual o dia da semana hoje?”. A resposta demora e a impressão é que o
interlocutor não ouviu. Mas logo vem um som de trem passando pela estação sem
parar: “Terça! Terça!”.
A terça feira é um dia artificial, feito plástico. Um dia-bolha. Ele não
existe. Da mesma forma que a ciência formula hipóteses, a imaginação o cria
para servir como uma ponte entre o susto da segunda e o despertar da quarta
feira. Um dia protocolo. Ele passa e ninguém sente falta. Compromissos e
compromissos e todos se parecem com robôs a obedecer ordens em combinações de
zero e um.
Letárgico, como o efeito colateral de alguns remédios, o dia passa
arrastado. É o medicamento da véspera agindo. O peso da segunda feira só se
aguenta com um sossega leão e a reação adversa é a apatia. Contra indicado para
aqueles que querem tudo. Nem triste, nem alegre. Nem ágil, nem molenga. Nem
cheio, nem vazio. Nem sim, nem não.
No entanto, é eficiente. O que pode parecer indiferença para alguns pode
ser concentração para outros. Um estado de espírito que não aparenta ter
objetivo, mas tem. Aos desavisados e aqueles que não sabem o que vieram fazer
neste mundo, a terça só “passa”. Mas para quem está acostumado com o ritmo e o
papel da meditação, o dia é perfeito. Mente vazia para a conexão que realmente
vale a pena.
Talvez o dia mais indicado para se drogar. Nenhum filtro, nenhuma
ansiedade, nenhuma predisposição equivocada. O “barato” puro e tranqüilo. Como
quem dorme bem e acorda descansado e disposto. Na medida.
Justamente pela falta de excessos, o dia é charmoso. Não há soberba,
exacerbação ou gula. Ele se guia pelo simples e necessário e se torna elegante.
Está mais para Chanel do que para o Rococó. Não há espaço para a criatividade
genial, mas nem por isso só a inércia toma conta.
A Terça Feira é o dia dedicado ao planeta Marte, tanto que em espanhol se
diz “martes”, e em italiano “martedi”. E se algum alemão lhe perguntar que dia
é hoje, solte um “dienstag”.
1 comentário:
nunca tinha pensado na terça dessa maneira. Quando ia levantar uma bandeira de protesto no seu segundo paragrafo o terceiro explicou melhor onde queria chegar e realmente concordo, terça é meio apática.
É um dia q ñ tem como gostar e nem desgostar.
As boas memorias do fds ja estão nos deixando, mas não sentimos o peso da semana, como na segunda.
Um dia pratico.
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