Agora sim a
semana começa!
Já é o
terceiro dia útil, mas com uma sensação que os dois primeiros não existiram, ou
não se fizeram notar. Essa lacuna na lembrança é efeito da medicação de choque
da Segunda e da letargia da Terça. Mas hoje, não. Completamente abstêmios,
tornam-se preparados para trabalhar com afinco, para enfrentar adversidades,
combater a preguiça e se tornarem pessoas melhores. O dia convida.
Ele,
espertamente, fica no meio da semana e se torna simpático, um verdadeiro
diplomata. Figura carismática e envolvente, como um vereador, reverendo ou
pastor, a Quarta Feira promete um futuro melhor, mas deixa claro que é preciso
ação. É daí que surge essa “servidão voluntária”, essa noção que é preciso
colocar a mão na massa para que o fim de semana chegue logo. Assim, quita-se os
pecados de segunda e terça, e o passaporte da alegria da Sexta está
garantido.
Logo cedo, o
sol pela janela e não uma nebulosidade; um despertar, e não uma ressaca. A
Quarta Feira vem trazer a luz e o brilho, assim como tirar o mofo e o
encardido. Pois, nela, acorda-se purificado, limpo e descansado das mazelas
anteriores. Uma toalha branca, perfumada, pronta pra enlaçar com segurança e
conforto quem acredita na potência desse dia. Num tom messiânico, a Quarta
profetiza: “Ela voltará! A Sexta Feira está próxima...mais próxima do que se
imagina!”
Mas, calma,
calma. Os ateus e agnósticos não precisam estranhar. A quarta não é um dia
religioso e o texto não quer ser ecumênico. É que quando se trata de cair
na real, de se tornar responsável, a culpa cristã toma conta da jogada.
Aí o tom religioso vira marketing, atrai audiência. Isca fácil para os culpados
desavisados e um bom mote para entreter quem lê agora esses parágrafos perdidos
no ciberespaço.
Então, Herr Kapitän, naveguemos no lado
materialista da força. Afinal, não podemos esquecer que o messianismo
não é exclusividade dos religiosos. Líderes políticos são (principalmente os de
esquerda) e oficiais das Forças Armadas também são. É preciso que a militância
e os soldados defendam a causa. O mundo corporativo utiliza o tom levanta-moral
cotidianamente. Observe uma equipe de vendedores e perceba ali uma "causa".
Nem tudo na
quarta é só devoção, esforço e consciência. A diversão também é garantida. No
almoço se come feijoada em
São Paulo como prato do dia; à noite as clássicas partidas de
futebol da rodada animam torcidas barulhentas; no emprego careta, a turminha
mais descolada e/ou alcoólatra embala o primeiro happy hour; em algumas galerias de arte é dia de vernissage; e pode
ter certeza que festinhas na Quarta Feira não deixam ninguém decepcionado. Alguns
anos atrás, antes das carteirinhas de estudantes terem força e falsificação facilitada, a
Quarta era o dia da semana que se pagava meia-entrada. Ave Cine Belas Artes!
A Quarta feira de Cinzas é a mais famosa no ano.
É o dia que se reverencia o astro Mercúrio, daí em espanhol chamá-la Miércoles e na língua italiana, mercoledì. Em inglês
diz-se wednesday, dia de Woden e em sueco onsdag, dia de Odin. No catolicismo, a quarta-feira é o dia para se
rezar pelos acometidos por enfermidades.
4 comentários:
Quanta inspiração numa quarta. Vim ler seu texto, para criar uma inspiração e terminar minha 'homework'... Boa, curti!
A quarta feira assim ate parece mais bonita. Tenho minhas lamurias com esse dia. Nunca gostei dele. Essa de ser meio da semana sempre me trás a melancolia e ñ o animo.
Mas por pouco ñ me convenceu da beleza desse dia.
Estou adorando a saga da semana.
bjs
Adorei,seu texto...fiquei com vontade de viver esta quarta feira.
Bjs
Quanto inspiração para descrever as coisas que acontecem. É como uma lagoa de poesia que flui de sua boca. Quero parabenizá-lo e convidá-lo a apresentar o seu trabalho em um restaurante onde eu trabalho. Estes são os restaurantes em Vila Madalena que pertencem a uma cooperativa.
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