domingo, 1 de junho de 2008

Bonecas em ação


Yeah!

Eu fui ao show do New York Dolls aqui em São Paulo. Dia 10 de abril, uma quinta feira chuvosa e quente, no Hangar 110. Sei que faz tempo, mas para quem leu o post anterior, sabe que vários assuntos estavam congelados.

Assisti-los foi uma maneira de rechear meu currículo musical, uma maneira de sofisticá-lo, pois cumpri uma exigência própria de assistir as bandas que eu considero o tripé ou a base de inspiração do rock que é produzido hoje, mas que foi feito lá nos anos 70: Iggy Pop & The Stooges, MC5 e New York Dolls. Quando comecei a ouvir esses grupos, nunca imaginei que conseguiria assisti-los. Já adquiri repertório para contar aos netos.

O dia do show foi confuso. Como sempre, deixei para comprar o ingresso na última hora, mais precisamente no último minuto. Perdi a oportunidade de pagar meia (estudante) e quase perco um desconto de 20 mangos que era oferecido em algumas lojas em relação à porta do clube.

Pelo telefone a atendente da loja de discos London Calling foi irredutível e disse que não esperaria um minuto após às 18 e 30 e fecharia a loja. Fiquei com receio de não conseguir chegar a tempo. Estava todo cheio de agulhas de acupuntura e ligando para o amigo que também iria ao show para combinarmos um jeito de comprar. Ele foi na frente. O japinha da acupuntura nunca atrasou, mas naquele dia...percebendo minha ansiedade e pressa, me disse:

-Vou usar uns pontos novos pra te deixar calminho.

Colocou uma agulha em cada ponta do bigode.

Saí correndo para pegar a loja aberta. Meu amigo já estava lá enfrentando a irredutível atendente que não aceitava cartão de débito para compra de ingressos. Só faltava 10 mangos pra ele comprar as duas entradas, mas ela queria mesmo desafinar o coro dos contentes. Eu fiquei imaginando que aquela moça detestava o New York Dolls. Sei lá, talvez algum namorado tenha começado a gostar da banda e começou também a usar camisas de oncinha, pintar a unha de preto e lápis no olho e ela ficou decepcionada, criando um trauma pela banda.

Do metrô até a galeria corri muito na chuva para conseguir pegá-la aberta. Cheguei lá esbaforido, molhado, com semente de mostarda na orelha e sentindo a picada da agulhinha no bigode. Ela me perguntou se estava chovendo. Fiz cara de poucos amigos e disse “não”.

A moça da loja ainda deixou péssimas vibrações no ingresso. Passei em casa antes do show e...adivinhem: na porta do Hangar 110 percebo que deixei o convite em casa. Péssimo. Sorte que não moro longe de lá e estávamos de carro. Que vergonha.

Perdemos a banda de abertura(Forgotten Boys). Lá dentro do Hangar 110 estava quente, muito quente, cheio de trintões e quarentões, quase não tinha moleque. Os que haviam estavam bêbados. Donos de lojas de discos da galeria do rock, vocalistas de bandas punk dos anos 80, muita gente já sem cabelo, assim era a fauna. Lotado. Todos espremidos. Para pegar uma bebida era uma aventura. Depois da primeira vez, já fiquei perto do bar mesmo.

O clima ficou mais festivo ainda quando entraram no palco e abriram com “Babylon”. O famoso arrepio na coluna bateu, esqueci da lambisgóia da loja de discos e lembrei da farra que é ouvir New York Dolls muito alto para atazanar os vizinhos. Ninguém se diverte sussurrando. David Johansen, o vocalista (um dos dois únicos sobreviventes da formação original) entrou com um figurino típico: calça apertada, camiseta baby look mostrando a barriga e lenços. Sua aparência hoje é uma mistura de Serguei com Mick Jagger doente. Mas a voz é a mesma desde os álbuns nos anos 70. Rock pra mim é diversão e eles prometiam fazer todo mundo pular e esquecer da vida.

Eu fiquei em transe. Pulava, dançava, cantava junto, urrava e bebia. O cheiro de cannabis já estava no ar e pouco depois eu já sentia o efeito dela em mim. Eu estava tão feliz que às vezes ia fumar um cigarro sozinho no bar olhando pra cima e cantando, rindo à toa. Voltava e uma pedrada após a outra. Que show! Lembro muito bem de alguns momentos, estrategicamente espalhados pela apresentação que me deixaram maluco: as músicas "Frankenstein', 'Looking For A Kiss", "Trash" e " Personality Crisis", além de uma cover da Janis Joplin ("Piece of my heart"). Aqeuilo pegou fogo mesmo com "Trash". Saí de lá como deveria: suado, surdo, exausto, feliz e chapado.

Os caras influenciaram meio mundo e vestidos de mulher. Quer mais diversão e esculacho do que isso lá anos 70? Coloco um clipe deles aqui de “Looking for a kiss” numa apresentação de 1973 e mostrado em algum programa anos depois. Tem uma narração no começo, algumas opiniões de músicos em forma de legenda e o final está cortado, mas vale assistir. Fiquei uma semana com essa música na cabeça. Ainda bem.



5 comentários:

Anónimo disse...

Eu, uma analfabeta musical, já tinha ouvido falar dessa banda, mas nunca ouvido.
Gostei!
A barulheira não é tanta! É quase musica de menina, como vc diz.
rs*

kisses

Unknown disse...

Pois é...eu não conhecia essa banda. Agora eu conheço. :P
Mas o que me chamou a atenção no seu texto foi a "lei de Murphy" presente em tudo. Hahahhah...parece a minha vida. Até ir na padaria comprar pão têm suas dificuldades. Na verdade a "lei de Murphy" é "o segredo" ao contrário. E funciona bem, hein!? Como funciona...
Abraços!!!
:)

Vivi Peron disse...

Oie!!!!
Tem coisas na vida que não tem preço e com certeza ver o show de uma banda que adoramos, não tem preço.Muito boa esta parte "(...) Cheguei lá esbaforido, molhado, com semente de mostarda na orelha e sentindo a picada da agulhinha no bigode(...)", semente de mostarda na orelha kkkk.
Gostei!!!
Bjs!!!

Casimiro disse...

É isso ae Marcelão.
Agradeço o comentário e também o tempo gasto em ler meu texto.
Muito boa a "Saga do Marcelo" na virada. Descreveu bem a pré e pós virada.rs
Um dia tentei descrever um fim de semana fantástico que tive, mas não consigo resumir como você. Talvez em um livro coubesse.
É isso ai. Seus textos são fantásticos.
Abraço

Estefani Medeiros disse...

Adorei a resenha, Marcelo!!

Principalmente o Serguei com Mick Jagger doente!! É bem isso mesmo...hahaha

Beijos!