segunda-feira, 21 de abril de 2008

Três critérios para importar LPs



Quando vou comprar vinis importados pela internet penso no dólar que anda baixo, penso na demora da entrega e, o mais importante, penso na relevância e no sentimento de ter o álbum de determinado artista ou banda. Nessa última compra, os três requisitos foram muito bem satisfeitos. Os álbuns, “We Have You Surrounded” (THE DIRTBOMBS) e “Jukebox Explosion” (THE JON SPENCER BLUES EXPLOSION) chegaram em menos de vinte dias por menos de vinte dólares cada para botar peso na coleção. O que mais importa nessas duas bandas é fazer um rock sem firulas, gente que trabalha de verdade, você vê os caras suando por causa do trabalho.

Conheci os nova iorquinos do Jon Spencer Blues Explosion por volta de 1994 nos programas da madrugada de Fábio Massari na MTV, com a música “afro”, petardo dançante com uma levada toda quebrada para chacoalhar esqueletos, sem deixar os amantes do rock constrangidos com tanto suingue e sem parecer classe média branca americana fazendo reverência gratuita para a música negra. Pelo contrário, é uma mistura cheia de barulho, berros e guitarras no talo. Aliás, são duas guitarras, sem nenhum baixo. Ô delícia!

Em 2001 eles tocaram em algumas datas no Brasil graças ao festival “Abril pro rock” em Recife. Se apresentaram em São Paulo numa versão reduzida do festival no SESC Pompéia e esse foi um dos dias mais tristes da minha vida, pois fiquei do lado de fora. Não aprendi a lição de comprar ingressos antecipados e também perdi outros shows de lá pra cá, como o Stereolab, por exemplo.

Esse álbum que encomendei deles é uma coletânea com 18 porradas de menos de 2 minutos cada, muito furiosas e barulhentas. São faixas retiradas de singles obscuros, raros e esgotados. Coisa de fã mesmo, porque não tem a mesma sonoridade dos álbuns mais conhecidos. Talvez lembre mais a antiga banda de Jon Spencer chamada Pussy Galore e toda sua barulheira e crueza primitiva.

Já os Dirtbombs são de Detroit. A cena de lá é bem garageira mesmo. Detroit é o berço de bandas como MC5 e os Stooges, só para ilustrar. Os mais famosos da cidade são os White Stripes, mas Dirtbombs é muito importante, apesar da postura bem independente. A banda tem uma levada soul muito forte, mas com vigor e sonoridade punk. Já comprei um LP deles chamado “Ultraglide in black”, que considero um clássico do rock de Detroit e é recheado de covers barulhentas e dançantes da soul music (Marvin Gaye, Sly & The Family Stone, Stevie Wonder). Agora chega pra mim o álbum mais recente, lançado em fevereiro. Ele segue o que já foi feito antes, ou seja, guitarras gritando com pedais fuzz, influência da música negra e berros poderosos.

A formação da banda é bem estranha: dois baixos, duas baterias e uma guitarra. O mentor é Mick Collins, negão com uma voz "de responsa" (vai do falsete agudo até o tom grave de Barry White na mesma música) que formou outra banda clássica de Detroit nos anos 90, os Gories, junto com Dan Kroha do Demolition Doll Rods. Os Gories faziam um punk-blues primitivo e cru que vale a pena conhecer. Mick Collins toca – ou tocou – em inúmeros projetos que misturam rock garageiro com música negra, tais como: King Sound Quartet, The Screws, Blacktop, Voltaire Brothers e por aí vai. O cara é patrimônio da cidade. A época que entrei em contato com Mick Collins e suas bandas, por volta de 2001, conheci muita coisa de Detroit e me apaixonei.

Recomendo a “In the red Records” que entrega muito rápido, como já disse, e tem um acervo de rock de garagem substancioso, que não é nada óbvio e bastante alternativo. Não sei ainda qual será a próxima compra de LPs. Devo testar alguma outra loja, gravadora ou distribuidora. Nesse momento quero privilegiar o conteúdo e me importar menos com o prazo de entrega.

Deixo aqui um vídeo clipe de Jon Spencer Blues Explosion da canção chamada “She said”, do álbum “Plastic Fang” de 2002. Os Dirtbombs não têm nenhum clipe, normal para quem preserva a independência, mas coloco aqui um link para um vídeo no You Tube de uma apresentação em Sydney no dia 08/03 deste ano. A música se chama “Motorcity baby” .